Only Yesterday


Obra de Isao Takahata. 1991.
  • A protagonista corta a sua rotina com a cidade por algum tempo, encetando uma aventura no campo e acaba por entrar em processo de reminiscência relativamente à sua infância. Poderíamos pensar à partida tratar-se de um filme aborrecido (uma personagem que decide viajar para o campo…uau!) Mas não! A construção da protagonista está, em todos os sentidos, irrepreensível! A carga realista da narrativa é impressionante! No fundo, Taeko próxima dos seus 30 anos, encontra-se estável: a sua vida parece encaminhada e esta parece estar preparada para receber a felicidade e a realização que lhe está reservada mas que por alguma razão não acontece – Taeko afasta-se então da cidade e então embrenhada no campo, recebe estímulos que a levam a recordar pequenos momentos na sua infância que aos olhos dos adultos são pouco relevantes mas que aos olhos de uma criança poderão ser tudo! A cena em que Taeko saboreia pela primeira vez um ananás (fruta exótica para o Japão desta altura) é absolutamente (e tal como o ananás) deliciosa! Curioso também que todos os adultos que vivenciaram aquela experiência consideraram aquela fruta pouco doce e uma assumida desilusão…Taeko enquanto criança era provavelmente a mais receptiva a uma novidade daquele género. 
  • Takahata faz-nos ver que a nossa essência, aquilo que realmente somos, permanece connosco nas várias fases da vida mas mostra-nos também a potencialidade das escolhas, das hipóteses com que nos deparamos na vida, nos caminhos e naquilo que a vida poderia para nós ser. Tudo isto, ladeando várias cenas onde vislumbramos a negação de possibilidades ou de sonhos não deixa de acompanhar uma latente nostalgia. A protagonista é ainda dotada de uma índole doce, o que reforçará o apelo a uma aproximação da audiência.
  • Parece-me existir alguma critica à educação parental por vezes mais rígida: a potencialidade existencial da personagem foi sistematicamente limitada de forma negligente pelos seus pais. Curioso que a trilha começa com o seu núcleo familiar ávido por a encaminhar nas suas pretensões e é a independência da rapariga e a sua livre capacidade de escolha que lhe ditará um futuro mais risonho. Este percurso terá no entanto um desfecho ao qual ninguém deverá falhar.
-10-

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