Pokémon: The First Movie - 1998

Título Original: Gekijōban Poketto Monsutā: Myūtsū no Gyakushū

Origem: Japão
Género: Acção; Aventura; Fantasia; Ficção Científica; Comédia-Drama; Kodomo.
Director: Kunihiko Yuyama
Argumentista: Takeshi Shudõ
Estúdio: OLM,inc.
Exibição Original: 18 de Julho de 1998.
Duração: 75 minutos.


"Those Voices... they're outside.

...Where I must be!"

A fasquia no Animation Kobe encontrava-se muito elevada após as vitórias de Ghost in the Shell e de Princess Mononoke.
Seria com redobrado agrado que aqui publicaria o anúncio de uma nova cotação de nível 10, mantendo-se em 1998 o triunfo de mais um brilhante trabalho de animação no formato cinematográfico.
Seria mesmo... mas certo é que tal não irá acontecer.

Na verdade, este filme nem sequer cheira de perto uma honra semelhante.

Pokémon: The First Movie apresenta uma concentração de elementos repetitivos, muito à imagem da própria série. Reconheço que os criadores de Pokémon elevam claramente um padrão enquanto imagem de marca do seu trabalho, onde certas personagens como a enfermeira Joy são sempre idênticas ainda que variando de cidade para cidade mas isto é algo que considero simplesmente aborrecido.
E pronto, a polícia do costume... a enfermeira do costume... a introdução de um Team Rocket que além de inútil na trama consegue ser cada vez menos funcional na sua vertente comediante... um enredo de todo, sem profundidade e muito colado às séries em si e ainda podem adicionar a tudo isto um conjunto de lutas desinteressantes onde os elementos dos Pokémons nem são referidos e onde as movimentações tácticas são inexistentes ao contrário de alguns rasgos interessantes que decorrem ao longo das séries.

Quem se debruçar sobre este filme, não poderá esperar a autonomia que se exige a este tipo de trabalhos.
Pokémon: The First Movie requere algum conhecimento prévio das séries ou seja, não funciona por si mesmo. Serve sim, enquanto um apêndice, um anexo votado aos fans muito à imagem de outros trabalhos de encher chouriços a que já vamos estando habituados... quer de Dragon Ball, quer de Bleach quer de outros tantos. No fundo eu nem definiria a essência deste filme enquanto um... filme! Mas sim enquanto um longo episódio que concentra os traços e as linhas de força de uma série, um daqueles episódios especiais que sem inserção directa nas séries não é mais do que uma prenda de Natal dos criadores para os seguidores do anime em si.

Tendo isto dito, ascende a necessidade de procurar justificar o triunfo deste trabalho no âmbito do Animation Kobe.
Não detendo ainda um conhecimento absoluto quanto ao que os finais da década de 90 nos ofereceram no que respeita a filmes, a tarefa transforma-se rapidamente em inglória pelo que apenas posso almejar atingir um cenário de mera conjectura. Nesse sentido, separo desde já o seguinte: falo de filmes e não do mundo do anime. Tudo quanto é televisão não entra obviamente neste ponto.

Sucesso e Défice.
Talvez os dois termos que melhor fundamentarão a minha conjectura. Ora se em primeiro lugar há a reconhecer o estrondoso sucesso de Pokémon além-fronteiras, em segundo existirá a necessidade de referir que muito possivelmente, 1998 à semelhança de outros anos, não deteve o cunho dos grandes mestres nem a produção massiva no âmbito cinematográfico existindo um diminuendo genérico no que respeita à qualidade da animação japonesa na arte que aqui abordo.
Existindo um défice, torna-se fácil compreender o porquê deste triunfo tendo em conta a dimensão de Pokémon na época.
Confessando que nunca fui propriamente um fan de Pokémon (ainda que seguindo as primeiras temporadas), contava que esta vitória no Animation Kobe conferisse a este anime um outro estatuto... o que acaba por não acontecer não envergando este trabalho sequer uma aproximação pálida à qualidade dos dois vencedores anteriores.

Enredo

Pikachu's Vacation e The Origins of Mewtwo, apesar de prólogos presentes no pack que aglomera Pókemon: The First Movie, não se articulam a 100% com o vértice que realmente dá forma a este trabalho: Mewtwo Strikes Back. Ou seja, imaginem os dois primeiros excertos de animação enquanto um extra do filme em si. Por um lado, eu agradeço pois a integrar os dois primeiros num todo, digo-vos desde já que o cenário se tornaria ainda menos positivo.

Pikachu's Vacation:

Primeiro prólogo que conta com aproximadamente 20 minutos. Profundidade? 0! Os Pokémons do Ash têm um dia de férias e convivem isoladamente entre si sem a interferência humana.
Aborrecido.

The Origins of Mewtwo:

10 minutos de aquilo que já será verdadeiramente uma introdução ao filme em si, concedendo-nos algum contexto. Algo que justificará este segmento da animação... na verdade, os criadores poderiam mesmo ter arriscado na integração deste prólogo no filme em si. Não resultaria enquanto mera colagem, mas com algumas modificações a inserção seria sem dúvida uma mais-valia até porque daria à obra uma outra profundidade psicológica, emotiva e mesmo histórica.
Neste trecho, assistimos à apresentação e desenvolvimento daquela que será realmente a personagem central do filme: Mewtwo, um Pokémon muito raro e poderoso mas que surge enquanto clone de Mew e cuja existência acaba por não se prender tão-somente ao objectivo de se forjar o Pokémon mais forte do planeta mas sim adicionando a isso a intenção de um cientista em trazer de volta a própria filha.

Mewtwo Strikes Back:

Eliminarei aqui todos os processos repetitivos que já supra mencionei e irei focar-me simplesmente em Mewtwo. Um clone que não sabe quem é, não compreende os objectivos da sua existência e recusa quando lhe dizem que a sua razão de existir se prende apenas a uma subordinação face a um humano que apenas o pretende manipular de forma a vencer torneios.
Como seria de esperar, será precisamente esta faceta apresentada por Mewtwo (a de um Pokémon confuso e traído que detém uma imagem negativa dos humanos) que entrará em choque com a essência de Ash, um humano que se preocupa com os Pokémons e estabelece realmente uma relação de amizade para com os mesmos.
Estas linhas transmitem já um diferente valor presente no filme e a ser sublinhado devidamente, concederia a esta obra um outro patamar... todavia a simplicidade e repetição de tudo o resto, tal como uma enfadonha previsibilidade acaba por enfraquecer o único vector que realmente projecta alguma profundidade no enredo.
Um outro ponto favorável que não posso deixar de referir (mesmo reconhecendo o quão este era também ele previsível) trata-se de 1 minuto bastante emotivo que incide sobre o desespero de Pikachu e que reflecte a sua amizade e apego face a Ash que se sacrifica de forma a acabar com o duelo de Mew com Mewtwo.

Como por magia as lágrimas dos pokémons e dos clones ascendem e cobrem a estátua do rapaz recuperando-o. (Apesar de previsível, este momento no filme é realmente marcante e os mais sensíveis não terão dificuldades em lacrimejar um pouco se devidamente receptivos à trama).

Esquematizando:

- Despertar e ascensão de Mewtwo.
- Introdução de todos os elementos do costume (enfermeira, polícia, Team Rocket, etc).
- Aglomerado aleatório de um conjunto de treinadores (promovido por Mewtwo) aparentemente sem grandes capacidades.
- Confrontação entre as forças envolvidas.
- Aparição do Mew original que surge do nada para salvar a situação.
- Ash à semelhança de um Naruto Uzumaki salva o mundo através do seu quadro de valores.

Em 6 pontos sucintos se resume o filme.
Uma prenda para os fans, muito pouco para os restantes amantes do anime.

Ainda assim, que se eleve a personagem de Mewtwo: muito bem conseguida quer a nível psicológico quer ao nível de combate. Agradou-me imenso a tipologia do seu poder e terá sido este personagem aliado ao momento emotivo que referi, o grande pilar que evitou uma pontuação menor para Pokémon: The First Movie.

Rating: 7/10