Dirigido por Michael Arias em 2006.
Artisticamente deslumbrante! Um traço fluído, dinâmico e audacioso. Transporta em si um mundo cheio de vida, de cor, tanta cor e por vezes tão vibrante que nos sentiremos diante de um espectáculo psicadélico. O traço das personagens é assumidamente oriental, assumindo a sua origem na plenitude - personagens essas que parecerão esteticamente pouco apelativas a um primeiro relance mas que acabarão a seu tempo por nos conquistar.
A narrativa circunscreve-se em torno de uma cidade imensa mas também frígida e corrupta e é neste contexto que introduz dois “gatos selvagens”, duas crianças que vivem nas ruas sendo que uma enverga a alcunha de “white” e a outra a alcunha de “black” - será este contraste a charneira de todo o enredo: a vida de uma criança de rua será naturalmente difícil e a cidade, representativa da sociedade, consegue ser bastante insensível e virar um verdadeiro inferno. Mas estes dois rapazes complementam-se e a sua amizade encontra um ponto de equilíbrio capaz de encontrar harmonia e de tornar possível uma vivência feliz dentro de uma conjuntura tão adversa. A partir do momento em que os rapazes são separados, a harmonia estilhaça-se e a narrativa faz-nos mergulhar na profundidade existencial destas duas personagens, fazendo-nos olhar bem adentro destas e observar o abismo que alastra e se prepara para as devorar. Do mesmo modo que o branco precisa do preto, o preto precisa do branco; a luz gera sombras e as sombras existem através da luz; para o conceito do "bem" existir e ser reconhecido terá sempre de existir também um "mal" a contrabalançar. A fusão dos dois gera uma espécie de harmonia suspensa.
A narrativa é a meu ver sólida, profunda e oferece-nos linhas emocionais que vão por exemplo, desde a nostalgia à sensação de corrupção, ao drama ou à amizade. Trata-se de uma obra muito bem-vinda ao mundo da animação, exalando originalidade.
-10-
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